
Queria algo. Não sabia o quê. Ainda hoje não sei, mas também não importa mais. Tudo o que incomodava dissipou-se. Toda a dor passou, ou pelo menos já não é forte ao ponto de fazer-se sentir... Ou talvez tenha sido eu, que decidi vestir a minha armadura e não me deixar atingir pela espada afiada do inimigo. De qualquer maneira, foi uma defesa inata, foi aquela ânsia de sobreviver que existe dentro de cada um de nós que permitiu vencer, por instinto, e atrelado veio um novo levantar de cabeça. É sempre bom achar que acabou. É sempre fantástico sentirmo-nos livres do fantasma que nos assombrou. Mas na verdade, ele não nos abandonou, nunca abandona, vive apenas quieto num recanto do nosso coração. Desde que a vida não balance muito, ele não se move. Pode lá permanecer dias, meses, anos, até uma vida inteira, sem voltar a gritar o seu nome, como que adormecido. Ir embora?, nunca vai, a porta nunca se abre para que ele saia, mas pensamos sempre ter uma janela escancarada para quem quiser levá-lo, coisa que quase nunca acontece, e se por algum motivo conseguirem tal feito, por essa altura, já o terror de quando fomos amedrontados deixou a sua cicatriz.